sábado, 15 de maio de 2010

Às flores

Quando choro à noite, a mãe vem e muda a fralda e dá palmadinhas no rabo. O pai vem e dá um biberão.
Quando não resulta, a mãe dá um biberão. O pai dá outro biberão.
Como cuspo a fruta, a mãe vem e dá-me peças inteiras num pratinho com um dragão, para eu fingir que brinco e lá vou trincando e amassando. O pai não desperdiça: se eu não como fruta, não dá fruta.
Quando faço birra, a mãe diz que já não me pode ouvir. O pai fica sem pequeno-almoço até ao meio-dia só para me ajudar a brincar.
Quando sorrio, ambos olham para mim e dizem que sou lindo. A mãe costuma perguntar se lá do sítio de onde vim havia mais iguais a mim ou se só eu sou o mais lindo. O pai continua a sorrir.
Quando faço um cocó, a mãe unta tudo o que é rabinho lindo com Bepanthene se o rabinho estiver bem, Cicalfate se o rabinho estiver assado e Halibut se estiver assado e já tiver metido Cicalfate mais que duas vezes no dia. O pai põe a pomada que houver; e pouquinho. O mano não muda a fralda.
A mãe sai e vai ao café comigo com a roupita toda a conjugar. O pai vai à rua e ao jardim. E foi ele que tirou a foto.
Como não gosto de xarope, a mãe segura, inclina, entorna três vezes, fica vermelha que nem um pimentão e faz-me engolir. O pai não entorna para não desperdiçar e faz-me engolir.
Quando vou dormir, a mãe não está. O pai primeiro está; depois, deixa-me sozinho com as estrelas do tecto.
A mãe tem a mania de usar palavras caras quando me põe a falar de mim, pela boca dela, com o mano. O pai treme sempre que a mãe fala a palavra "cara".
A propósito: alguém me explica o que quer dizer "ecléctico"?

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