quarta-feira, 12 de maio de 2010

Mensagem 1

Hoje não chorei ao chegar à escola. É uma complicação pegada. Por um lado, aqueles meninos todos: não dá pra resistir. Gosto e anseio pela companhia deles. Por outro, a mãe. O pai. O mano. Os livros que há em casa. E o tempo todo da mãe, do pai... E todos os livros que há em casa só pra MIM.
Nasci há uns tempinhos já, mas para dormir ainda me falta treino. De vez em quando (umas duas vezes na minha vida, creio), já me esqueço que devo gritar de tortura todas as noites, várias vezes por noite, para fazer a minha mãe e o meu pai (quais monstros de halloween saídos da cama sem sorriso – estarei a perder a graça?) enfiarem-me um biberão de leite pela goela abaixo. Como tenho tosse, vomito. Antes, bolsava. Agora, vomito. Não é óbvio que vomite se tenho tosse e acabei de mamar? Porque resmungam eles com a vida, a roupa para mudar – sabe tão bem uma cama lavadinha! – e o sono? Eu deito-me cedo, a essa hora estou fresco! Porque não fazem eles o mesmo?
Tento também explicar-lhes coisas simples tipo: estou farto de sopa e o que eu queria mesmo é que me dessem bacalhau à brás todos os dias, o leite-creme em vez da fruta também marchava e talvez se dormisse com eles não resmungasse tanto enquanto eles querem descansar. Mas o certo é que não me percebem. Como não me percebem, cuspo. Aprendi no colégio a fazer uns jactos fenomenais, fica tudo salpicado à pistola, um efeito giro até. A mãe, chata como de costume, não gosta e limpa logo com rolo de cozinha, grita pelo detergente xpto que não causa alergia aos meninos e desinfecta e o diabo a quatro para podermos fazer toda a javardice sem morrermos intoxicados com a desinfecção. Depois, enfia-me na banheira, mas eu tomei banho ontem!, e quando eu até estou a achar piada à brincadeira – à baleia, ao caranguejo, à bola colorida que roda com a água – tira-me e seca-me à velocidade da luz, porque afinal é de manhã e não há tempo para chapinhanços! Decidam-se!
Quando acordo às seis da matina, não é óbvio que queira ler um livro? Para quê descansar em frente a uma chávena de café quando passámos as últimas horas deitados no colchão? Há tantos cartões giros para indicar o cão, ão-ão, o carro, pó-pó!, o gatinho, miau!... E, quando eles não estão com ar de mortos-vivos em frente ao pequeno-almoço, estão a ver se me preparam para irmos prà escola. Sem stress, malta! Há tempo! Se não se limpar agora, há-de haver alguém que limpa! Afinal, quando regresso está tudo arrumadinho, né?
Há coisas que eles simplesmente não percebem. E eu, quase fluente neste língua que a minha mãe aprendeu a esmiuçar, não me consigo fazer compreender. Daí ter criado esta página. Talvez assim resolva este pequeno problema.Um abraço.

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