quarta-feira, 23 de junho de 2010

Borrachas

Ainda não recebo muito correio. Nem contas da água, nem vales de desconto, nem nada de cartões de crédito. O resto da malta farta-se de receber papelada. Eu não.
As páginas em branco das cartas que não servem para nada cá em casa viram lista de compras. Depois a mãe passa para o molesquinho, o pai, para o caderninho e eu para a parede. Deixo tudo marcado com recados meus, afazeres, coisas que, à falta de post-its, preciso de ir anotando.
Acontece que, desde que eu comecei a andar, o líquido que mais se gasta é o Sonasol e o limpa-vidros, para apagar, respectivamente, as dedadas e as lambidelas das paredes e dos vidros da varanda. Quando dou conta, já não há lá nada apontado.
Mais do que comprar detergentes, nos últimos dias vamos muito à farmácia. Trazemos tudo coisas horrorosas que, se fazem bem e me põem forte, bem podiam ser dissolvidas no regador e dadas a beber às plantas, que com o calor parecem mirradas...
Ontem o pai foi lá gastar dinheiro outra vez. E hoje anda tudo cansado, tudo adormece a brincar comigo, tudo com os olhos a meia haste. Sim, estou doente e quando parei de berrar já o Sol começava a nascer. Chorei muito. Estive triste. Já não sei muito bem porquê. Se não apagassem as coisas que vou apontando por aí talvez me lembrasse...

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