segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dança

Não há água que o pai traga no balde que ressuscite a hortência, cada vez mais murcha, os brincos-de-princesa, cada vez mais berloques sem cor, e aquelas castanhas que nasceram sem se saber como no vaso da salsa, com pétalas mais secas que as folhas de louro que a avó usa para temperar os assados.
O calor está a pôr os crescidos malucos, mas esquecendo a história de não se conseguir dormir com o suor eu até acho que tem coisas boas. Pelas ruas onde passeio, por todo o lado, as folhas secas parecem tudo menos mortas. Giram e rodopiam quando corro atrás delas e fazem cócegas nos pés quando as piso.
Nos últimos dias, até dentro do meu prédio, depois de se passar a porta de entrada, há um montão de folhas dessas a tapar o tapete. As senhoras da limpeza, que enceram lá o chão, gostam de resmungar com elas. Eu, quando passo, cumprimento-as e sorrio.
Afinal, se me seguiram, é porque gostam de brincar comigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário