terça-feira, 30 de novembro de 2010

Gesso

Querida avó,

Dizias que aquilo parecia de plástico, mas não só não é de plástico como é pouco resistente, porque tentei confirmar e partiram-se à primeira. Agora parece que em tua casa tens uns presépios a mais. Faz favor guarda-me uma vaca e um burro.

E não te preocupes que aspirámos.

Beijinho

Riq

PS - Isto de vocês irem embora quando saio para cortar o cabelo baralha-me um bocado. Desta vez, nem os teus chinelos, avó, os cor-de-rosa, à porta, para eu apontar...

Caracóis

Hoje levei umas tesouradas na franja pouco antes de sair de casa. Andávamos há três meses a marcar e a desmarcar a ida ao cabeleireiro.
Claro que os caracóis foram crescendo e batiam-me nos olhos. E por muito que eu explicasse à mãe que aquilo se cortava bem era a ver o Noddy, ela insistiu em experimentar na casa de banho. Eu tinha umas coisas para fazer, pois bem, para mostrar, pois claro, ora no quarto, ora na sala, e por muito que ela me agarrasse não posso dizer que tenha ficado quieto.
Resultado: impus um novo estilo na escola de franja escadeada, e a Cristina, que trabalha no salão da frente, ao fim da tarde, tratou de aparar o resto.
Como eu me porto bem e tudo, não sei porque não tratou ela da coisa em casa...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

Multifunções

No biberão à noite. Banco durante o dia.
Há que fazer render as coisas.

sábado, 27 de novembro de 2010

Ecoponto doméstico

Revistas cheias de famílias completas e imagens de motas para eu apontar. Telescópios que sobraram do rolo de cozinha. Caixas de ovos para guardar tralhas pequeninas. Coisas que me fazem falta, claro.
E eles vêm (eu agarrado a precisar mesmo da embalagem do iogurte líquido para a matraca), vão ao armário e preparam-me uma papa...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Transporte

A carrinha que leva o mano está na oficina há três dias. Isto vale-me um grande passeio de carro todas as manhãs, para o ir pôr na escola, e eu, sinceramente, gosto.
Tem feito chuva aqui onde moramos, mas como entramos pela garagem do prédio só nos molharíamos nestes passeios se saíssemos para a rua na mota do pai.
Aí, eu agarrava-me bem ao mano, o mano agarrava-se bem ao pai, e o pai, agarrado ao guiador da mota, leváva-nos lá onde precisamos de ir.
Tivesse eu um capacete.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Diferenças

Já não é de agora, que já vos contei: tenho os dedos dos pés encavalitados. De há uma semana para cá, o segundo dedo anda a queixar-se de ter o primeiro às costas. Vai daí, a mãe pôs uns sapatos mais largos.
Qualquer outra família mais abastada mandava comprar uns pés novos...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Arranjo

Pelas coisas que me ensinam lá na creche, parece que está bem chegada a hora de começar a aprender as cores. Eu esforço-me, claro, até porque há filhos de colegas da mãe que só não falam japonês porque não calha, e eu não posso arriscar-me a fazer má figura quando o Pai Natal começar a comparar os meninos para destinar os presentes.
Nem tudo ajuda. Quando eu visto a T-Shirt vermelha, e passo a manhã a dizer "bermelha-melha-melha-lha-lha-lha", qual a lógica de pôr o babete que a avó trouxe dos Açores, que além de letras tem cores, e baralha? Aos sofás da sala, meteram-lhes aquela cobertura antibaba, e só há 15 dias descobri que eram amarelos. E, já agora, alguém com influência no tal do santo das nuvens bem que podia tratar de lhe dizer que assim é difícil estudar o azul.
Se tudo correr como esperado, o triciclo já cá canta.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Alerta

Hoje não me pinga o nariz nem tenho tosse. Fiz da tábua de passar a ferro uma casinha enquanto ela estava entretida, ajudei a pendurar os cortinados, e nem sequer mexi na caixa de ferramentas quando se lembrou de apertar o varão que estava leso.
A abóbora que lançava mosquitos precisava de ser retalhada, e não só esteve à vontade a parti-la aos pedaços como tratei de prová-los a todos antes de irem para o congelador, não fossem estar estragados.
Fui dentro do cesto da roupa suja até à cozinha, e quando a máquina terminou entreguei-lhe uma a uma todas as molas de que precisava para estender aquelas camisas todas no estendal no meio da sala, porque chovia.
Depois, não me zanguei quando me tirou do banho. Comi algum creme do corpo, mas como ela nem deu conta não se zangou, e fingi-me tão esganado de fome que me esquivei a cortar as unhas, e então não houve gritaria até ao jantar.
Comi a sopa toda, que me soube bem; o arroz, a carne e os espinafres também, tudo sem me queixar. Até a fruta, que era fibrosa, marchou.
A dar tão pouco trabalho, só posso estar a ficar doente...

domingo, 21 de novembro de 2010

Abraço

Mil e uma coisas que precisas de saber antes de crescer (Por Riq Afonso)
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1. Se gostas de abracinhos e beijocas, experimenta fazer... coisas. Articular uma palavra, por exemplo, dá um "Liiindo!" e um abraço. Comer a sopa toda dá um "Muito beeeem" e quiçá uma castanha cozida depois do arroz. E ganhas beijinhos extras toda a manhã se acordares poucas vezes durante a noite.

2. Eles gostam que saibamos fazer, mas não nos ensinam tudo. Aprendam comigo. Levam-nos aos treinos de goalball e tal, e dizem tão bem de nós quando fazemos de apanha-bolas que nos convencemos de que tudo é simples. Mas nada de tentar trazer aquelas coisas para casa: além dos guizos que têm dentro (toda a gente nota, quando as desviamos), são tão pesadas, tão pesadas, que mesmo que as consigamos trazer até ao carro não haverá meio de nos safarmos com um pontapé só quando for para os golos. Mais vale esperar, crescer, e só então tratar do assunto.

3. Outra coisa: abrir e fechar as portas. A mãe faz, o pai faz, o mano faz. Nós, que somos crescidos, também sabemos. É só esperar que ela saia para a varanda e, zumbas!, fecha-se a porta atrás dela. É perra, sim, eles nunca irão adivinhar que temos força para isso, e toca a surpreendê-los. Claro que depois para voltar a abrir é mais complicado, e ela tem de gritar por ajuda para quem passa no passeio (já vos disse que vivemos no 8.º?), o vizinho tem de ir buscar a chave ao pai que foi jogar e não está na cidade, e nós fechados na cozinha com a mãe lá fora também não ficamos contentes, mas é o preço a pagar por mais um abraço.

PS - Desde o incidente desta manhã com a varanda que os vizinhos têm a nossa chave de casa. Pelo desespero e pela rapidez com que se decidiu a isso, muito em breve a mãe deve dar-lhes também a do carro e a da mota (tudo para o caso de ser preciso, como ela dizia enquanto agradecia e abanava as mãos). Alguém me diga, por favor, onde escondo as chaves de fendas de que o pai precisa para me meter as pilhas nos brinquedos...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O Céu

Há coisas que eles deixam fazer e nem se sabe bem porquê.

sábado, 13 de novembro de 2010

Fluorescente

Gosto. Não vou dizer que não. A cama até fica melhor ali onde a puseram. Os cortinados, é da maneira que me compram uns novos. E os brinquedos estão sempre arrumados, com a desculpa do bom chi.
Agora gostava de saber quem foi o engraçadinho que se lembrou de colar as estrelas no tecto.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Totoloto

Hoje, na escola, uma montanha de fotos afixadas. Pegaram em mim ai colo, disseram que aqueles bebés eram as educadoras quando tinham a nossa idade. Que tentássemos pôr uma cruz naquela que achávamos que era a da nossa sala.
Obviamente não percebi a piada. Se aquelas senhoras têm filhas, que as tragam para brincar comigo. Agora não queiram cá convencer-me que a Cidália alguma vez usou fraldas, a Cristina, aquela fita, e a Rosa, sempre de dieta, é a dona daqueles refegos.
Pelo sim pelo não, uma cruz em todas. Múltiplas, como a mãe faz no quiosque. Como ela diz: a ver se ganhamos dinheiro para a empregada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Aftas

Quero papa mas dói, tenho fome mas dói.
Coisas difíceis de abrir: as portas da rua, os fechos... e a minha boca.
Bem que andava a precisar de perder a barriguinha...

domingo, 7 de novembro de 2010

Querida madrinha

Olá, tudo bem? Diz a mãe que hoje fazes muitos anos, e lembrei-me de ir ter contigo, mas tenho-me atrapalhado com as palavras: não me percebem quando quero aquela roupa, quando não quero aquela papa, quando preciso mesmo de brincar com aquele boneco de cristal que está ali em cima. Não percebem nada e, por isso, não há meio de me levarem.
Ainda tentei por mim, mas não consegui tirar o carro aqui da rua. Então, se quiseres cá vir ter, vês-me e dizes como eu estou crescido!, e eu deixo-te dar uma volta, que sobraram moedas na carteira da avó.

Pode ser? Agora vai lá comer bolo. E não, ela não se importou. No fundo gosta de ter o que contar.
Beijinho de parabéns,
Riq

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Vizinha

Hoje encontrei a Rosa a caminho da escola. É a minha educadora, o lugar dela é lá, mas despediu-se de mim no café e disse que entrava mais tarde. Quando encontrei a outra, que deu beijinho e carinho e foi mostrar as plantas e os amigos, mostrei o meu descontentamento, que ainda sei como se chora, e os horários são para cumprir.
Estava também ao colo a andar a caminho da creche - é assim que eu ando de manhã, ao colo - quando apareceu aquela vizinha barriguda a dizer que a minha nova amiga nasce hoje. Fiquei contente, pois bem, que ela será a vizinha do lado, e, com o Guilherme aqui da frente, podemos sempre fazer um clube secreto. Como o tempo não é muito e, afinal, tirar e não tirar a pulseira da maternidade, na melhor das hipóteses está cá para a semana, é melhor começar a fazer já a lista.
Assim sendo, cá vai: aquele livro, não posso emprestar; o urso, também não; o Pokoyo, não; na arca, não pode mexer; nem no cesto, nos meus carros...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Invocações

Eu ando um bocado mamãdependente, e tem-me custado que seja o pai a deitar, a dar a papa, a vestir, a limpar o nariz, a pentear, a tirar o cocó, a fazer festinhas, a cantar, a ler a história.
Especialmente quando a mãe está cá por casa, não consigo compreender por que razão tem ela de estar a arranjar-se e não a mim, a vestir-se e não a mim.
Vai daí, nos últimos dias, tenho chamado por ela; melhor, chorado por ela. Gritado, vá, para ela ouvir bem. E o pai não tem tido a vida facilitada.
Então, resolve andar comigo a fazer esconde-esconde com a porta da cozinha ("não está lá ninguém, pai") ou fingir que as coisas nos ouvem e podem vir ter connosco quando chamamos por elas. Quando ele grita pelo elevador - estou eu a chorar porque a mãe não vem à rua -, vá que não vá. A gente diz "E-le-vadô-or!" e a porta abre-se, tipo Ali-Babá. Mas quando ele anda pela casa a chamar pela "Neo-Sinefriiiiii-naaaa!" para me pôr no nariz, embalagem que não anda, mal se vê e nem pisca nem nada, nem sempre compreendo onde quer chegar...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Coisas que me põem tonto V

Como eu odeio quando eles não saem da frente...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Figuras

Lembram-se deste casaco? É para a chuva, apitava e tal. Agora já não. Foi giro de ver.
Com o casaco na mão, o talão na outra, a correr o shopping todo e a apitar em cada loja. Pi-pi-pi, a senhora olhava, ela levantava os braços, assim como fazem os senhores das mãos ao alto!, e dizia que era ela que estava a apitar, que não, não tinha roubado a parka, mas não havia Chicco em lado nenhum, que aproveitava estar a comprar camisas para o mano, e podia ser que alguém lhe tirasse o apito. Diziam que não, que o apito era diferente, ou que o alarme era igual, mas o gerente não deixava tirar alarmes de roupas de outras lojas, mesmo com recibo.
Estão a ver os comboios? O fumo a sair pela chaminé? Juro que me pareceu ver isso, mas das orelhas. E ficou muda que nem o meu Pocoyo sem pilhas, certamente com medo que lhe saíssem mais umas quantas palavras. Ontem lá foi a outro shopping, à Chicco. Quando a senhora pediu desculpa pelo incómodo, ela nem respondeu. Ela é alta e normalmente olha as pessoas de cima, mas juro que, desta vez, me pareceu que a olhou de lado...