quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Deus

Há coisas que nos fazem pensar.
Se a mãe e o pai têm pouco tempo para estar comigo, a avó vem cá para casa tomar conta, e dá o banho, a papa e os medicamentos. Agarra-me em frente ao aerossol com tanta força como a que usa para me segurar em cima do escorrega quando resolvo ficar em pé, e leva-me a ler o jornal ao café com o avô a sentar-me nas cadeiras e a cumprimentar a malta que passa, tudo porque acredita que sou crescido.
Acho que todos acreditamos em coisas diferentes. O meu Noddy, por exemplo, que dorme comigo, diz "Oh, tenho tanto sono!" assim que lhe aperto a barriga, mas como continuamos acordados eu não acredito. A mãe também deixou de acreditar nas razões que a façam trocar a ida à missa com a avó pelo passeio na praia, a igreja pelo escorrega, a hóstia por um gelado.
E hoje, que dormi pouco, ela levantou-se a acreditar ainda menos. Mas naquela horta que ela planta na varanda e que já ninguém achava que ia dar em nada apesar de se regar e de se tratar começaram a aparecer três exemplares de tomate. E ela, maldisposta, não conseguiu deixar de pensar nas coisas. E, quando me fez a cama, ia jurar que o Noddy lhe piscou o olho.

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